Começou no carro. No trânsito a ouvir a estação de rádio de sempre, a música que dava vezes e vezes sem fim. Batia com os dedos no volante a acompanhar o ritmo. Apercebeu-se que a música mais não é que um sequência lógica e matemática de sons. Foi aí que começou. Sabe-o agora que é tarde demais. Todos os dias, no carro, a ir para o emprego ou a voltar para casa, fosse qual fosse a música, tentava encontrar-lhe a fórmula, e daí encontrar a fórmula que se aplicasse a todas as músicas. Percebeu o porquê dos diferentes estilos musicais e representou-o em números. Depois descobriu que os livros, os filmes, tudo o que contasse uma história seguia determinados padrões que não podiam ser alterados. Só assim fazia sentido.

Anota tudo. Escreveu uma tese que jamais alguém aceitou, e achou que talvez ficasse famoso por encontrar a sequência de todo o comportamento humano. Anos e anos de pesquisa científica resumidos em algumas páginas. Acredita ter um dom que lhe permitia padronizar tudo. Tudo. Senta-se à janela de casa, na mesa do canto de um café, num banco de jardim. Passa os dias e as horas a observar as pessoas. Seja quem for. Prometeu a si mesmo encontrar o segredo de tudo. A lógica matemática da vida. Esquece-se de comer, dormir, tomar banho. Esquece-se de si mesmo. Anota tudo. Calcula tudo. Não fala com ninguém. Não acha necessário. Recorta revistas e jornais. Lê muito. Tenta aplicar a tese que escrevera à sua nova teoria. As relações interpessoais são apenas relações comerciais. Tudo pode ser calculado e previsto.

No emprego finge trabalhar. Olha pela janela e bate com a caneta nos dentes ao ritmo da vida. Os colegas não se aproximam. O chefe acabará por despedi-lo. E ele não se importa. Sabe que está destinado a algo maior. Conseguiu reduzir uma relação entre duas pessoas a uma equação com diversas variáveis. Algumas entretanto transformadas em constantes. Contudo, na busca do seu destino maior, esqueceu-se do mais óbvio: as variáveis são isso mesmo. Variáveis.