a preto e branco

Hoje acordei a preto e branco. Como nos filmes antigos. A sonhar com impossíveis, com a saudade adiantada do que está para vir. Com o desejo de dizer o indizível e ouvi-lo de volta. Longos beijos debaixo de chuva. Mãos que se dão em segundos que parecem duas ou três eternidades. Mesmo assim, há dias em que tudo parece perdido, em que as forças se esgotam, em que o destino parece tão determinado contra mim e juro a mim mesmo que não aguento mais. Às vezes parece mesmo que todas as portas se fecham, sabes? E tenho esse problema de não perceber logo que está apenas encostada.

Como nos filmes antigos, a noite cortada a meio por sonhos. Contigo. A mão que se quer esticar para agarrar a tua nos passeios pelo parque. Os abraços que ficam por dar, o olhar que acaba sempre por ir parar aos lábios, como que a imaginar o sabor do beijo. Eu espero, eu não desisto, porque também não consigo esquecer. Penso em ti em cada passo que dou, com o olhar pousado no chão, a ver tudo menos o caminho. Mesmo assim acabo sempre por tropeçar em ti. Uma vez mais como se nada mais houvesse. Como se fosses tudo e preenchesses todos os vazios. Como se apenas o pensamento de ti me acalmasse a ansiedade. Porque sou sorrisos. Porque sou saudade quando não estás.

A preto e branco. O arrastar lento da acção. O desejo adiado até à última cena. O beijo à chuva. A despedida que deixa de o ser. O abraço que finalmente se dá e que preenche tudo. E o sabor a todas as cores nos lábios. The End.