Parece-me óbvio que, por vezes, sejam necessárias certas decisões sem qualquer carga lógica. Quase sempre é preciso dar um passo atrás para dar dois em frente. Ou algo do género. Os clichés resultam sempre tão bem quando é hora de acalmar a alma. E o mais estúpido é ainda sentirmos necessidade de nos mentir. De nos enganar-mos a nós próprios. O recalcamento pode ser um processo extremamente doloroso.

Inevitavelmente acabamos todos por tentar arranjar defesas, para a perspectiva de todos, mas todos, morrermos sozinhos. Podem dar-nos a mão, mas chegado o momento vamos sozinhos. E ainda bem. Porque afinal nada poderia jamais ser igual. Mas continuamos a acreditar e a iludir-nos, porque precisamos dessa mentira, dessa ilusão para continuar. Porque a ideia de um amor para sempre, da felicidade eterna é confortável. Porque senão não vale a pena continuar, senão morremos.

Mas chega a hora e todos acabamos por recusar o que procuramos – e procuramos todos o mesmo -, o amor, a felicidade. E voltamos ao início, sozinhos, como na hora da morte. Como em todas as horas em que precisamos de sentir o toque de alguém. As palavras são merda, porque os actos nunca correspondem. Bicho estúpido e contraditório o Homem, que se mata e se vive no mesmo momento. Que precisa de se matar uma e outra vez para se cumprir a inevitável cruz da vida.


Para a #1