Ela não poderia nunca perceber aquelas lágrimas. Há coisas que são indizíveis, e outras que não se podem dizer. Ele não lhe poderia nunca explicar que as lágrimas eram apenas o resultado de uma complexa mistura de sentimentos. Mas talvez o que mais o assustava não fosse a despedida pesada, soturna, a incerteza dos minutos seguintes. As despedidas matam sem sequer matar, e quando ele se apercebeu disso pensou que talvez fosse melhor morrer, que talvez doesse menos.

Ela não poderia nunca perceber as lágrimas que caiam da sua cara, ele tampouco poderia explicar. Não lhe poderia dizer que chorava por, uma vez mais, não poder adiar o sonho de ficar. Porque para isso teria que dizer que queria ficar para sempre. Com ela. Porque para isso teria que explicar que a num determinado momento na vida se conhece outra pessoa e que, nesse preciso instante, se sabe que se vai ficar com aquela pessoa para sempre, um dia de cada vez. E ela era essa pessoa.

Porque há duas palavras com efeitos estranhos. Sempre. Nunca. E nunca lhe poderia dizer que queria ficar com ela para sempre. Porque para sempre assusta. Que ter que partir mais uma vez lhe doía como nada. Só conseguia pensar em ficar.