Talvez de uma forma ou de outra tudo seja igual. A cabeça é um problema, e o amor é mesmo fodido. Não sei, talvez tenha que ser assim. A fantasia sempre melhor que a realidade. Os sonhos sempre arruinados pelo acordar. O relógio que não pára e ainda bem. A noite e o dia a repetirem-se com a exactidão de uma cópia.

E, no fim, sempre a angústia, a ansiedade, a desilusão. As expectativas nunca partilhadas. E a invisibilidade que mata. E precisar, só preciso de mim e do mundo. Mas não resisto à ilusão, sempre a mesma. A cabeça é um problema, e o amor é mesmo fodido. A consciência do fim que tudo tem. Espero que o próximo seja o meu. Penso. Arrependo-me. Porque o desejo não é de morte, é de desaparecimento. É o desejo de pensar que alguém pode sentir a minha falta. O desejo de pensar que tenho algo que só eu posso dar.

Não sei. O tempo – que não faz tic-tac, mas um tic-tic ou tac-tac, bem menos rítmico – insiste em passar. E o problema é esse. Nada muda e o tempo continua a passar. Uma cópia repetida de tudo aquilo que já passou e de que fujo. O passado é pior que o amor, muito pior. A cabeça não pára. A cabeça é um problema.