Gostavam de passear. Não davam as mãos, nem os braços, nem se abraçavam. Caminhavam lado a lado e isso era tudo. Umas vezes falavam, outras não. Ela do lado de dentro, sempre do lado de dentro do passeio. Ela nunca se apercebeu sequer disso. Se no início ele a encaminhava para esse lado, ela acabou por o fazer inconscientemente.
Caminhavam lado a lado sem direcção. Iam fazendo o caminho ao caminhar. Ela escolhia. Escolhia se viravam à esquerda ou à direita, ele ia atrás, sempre do lado de fora, sempre do lado da estrada. Ele não gostava de tomar decisões, também não achava isso assim tão importante quando estava com ela. Queria estar com ela, apenas.
Um dia sob um sol cansativo, quente e cru, ela apercebeu-se. O tempo, para ele, parou. Ela perguntou porque é que sempre que andavam juntos ele a fazia ficar do lado de dentro do passeio. Ele soçobrou, sempre tivera esperança que ela nunca chegasse a perceber. Engoliu em seco, enfrentou a realidade. Foi sincero: “Porque assim, se algum acidente houver, é a mim que acontece, assim posso proteger-te”. Ela sorriu. Ela corou.