Os seus encontros seguiam um estranho ritual, eram uma celebração daquilo para que não conseguiam encontrar palavras. Deitavam-se, lado a lado, muito juntos, muito abraçados. Trocavam beijos ocasionais enquanto mudavam de assunto, como quem muda de disco e, naqueles segundos de silêncio, mal pode esperar pelo que vem a seguir. Até o sono se tornar incontrolável, falavam. De tudo, dos fantasmas do passado e do presente, dos medos, dos sonhos e desilusões. Falavam de coscuvilhices e de assuntos sem assunto. Mas, acima de tudo, conheciam-se. Devoravam-se mutuamente como se nunca se tivessem conhecido nos anos em que se conheceram. Até que adormeciam, lado a lado, muito juntos, muito abraçados. Como se desde sempre dormissem assim. Com uma naturalidade que o facto de apenas se estarem a descobrir não parecia possibilitar.
Ele acordava primeiro, sempre primeiro que ela, adormecia sempre depois. Deixava-se ficar, com o braço em volta do corpo dela, sentindo-a ali. Certificando-se que não era apenas um sonho. Até ser hora de a poder acordar. Como uma criança que no Natal aguarda ansiosamente as prendas que sabe que a esperam. Então, mal ela acordava, enchia-a de carinhos de beijos, até o desejo tomar conta dos corpos. Então, com as bocas encostadas, trocavam carícias que só eles sabem quais. Ele, sentindo o corpo dela, tremia de desejo. Dava-lhe o prazer que para ele era prazer também. E beijavam-se ainda mais. Muito juntos, muito abraçados. Até que ela dizia “pára” e ele parava. Riam-se muito, felizes. Ela, ainda sob o efeito do prazer que acabara de ter, espreguiça-se, contorce-se, fá-lo rir. Ele, ainda perdido, nas palermices dela, lembra-se que um dia destes tem que lhe dizer que nunca fez amor assim com ninguém.