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Numas escadas de Paris, ou noutra qualquer rua que o êxtase não permitiu identificar. Foram cigarros atrás de cigarros, como se o mundo estivesse para acabar e tudo o que ainda houvesse fossem cigarros e cinzeiros a transbordar. Como se só o sonho da tua mão sobre a minha me fizesse adormecer. Como se o toque do teu sorriso sobre o meu corpo me sustentasse. Pedi-te só mais um pouco e tu disseste que não que Paris não podia esperar por ti. Acabaste por ficar e nem precisaste de muito tempo para que a despedida e um pronuncio de saudade me consumisse. Então convidaste-me a ir contigo e renasci esperançado.

Durante uma semana, vimos museus e exposições de arte, que eu não compreendia. Mas que tu, pacientemente, me explicavas quase quadro a quadro. Esqueci a saudade, a despedida antecipada. Numas escadas de Paris, trocámos segredos cúmplices. Olhos azuis envoltos em cabelos longos e um sorriso de menina a encher todo o rosto. Paris foi a minha morte, porque eventualmente acabaram os museus, as exposições e as ruas todas calcadas a passo rápido de quem não deveria ter pressa. Paris foi a minha morte.

Eventualmente, reconheci um quadro que me desiludiu, e que tu não me quiseste explicar. Disseste-me que era hora de eu partir, que tinhas que conquistar Paris sozinha. Deixaste-me no aeroporto para apanhar o primeiro voo de volta a casa, que apenas partia no dia seguinte. Despediste-te fugazmente como quem tem o mundo à espera de ser conquistado. Partiste no teu passo seguro que arrasta olhares. Naquela última noite, perdi-me numas escadas de Paris, ou noutra qualquer rua que a morte não permitiu identificar. Foram cigarros atrás de cigarros, cinzeiros a transbordar. Foi um quadro incompreensível que nunca ninguém soube explicar.