Gosto do café doce, o mais doce possível. Talvez porque não goste de café, como não gosto de coisas demasiado reais. Mas preciso de cafeína, mantém os sentidos despertos, exagera a dor. Bebo cinco cafés por dia, mas só nos dias em que não bebo mais. Deixei de me preocupar com a saúde no dia em que te conheci. Na verdade, deixei de me preocupar com tudo o que não estivesse de alguma forma relacionado contigo. Foi o que me valeu.
Se não tivesses sido tu, ou melhor, se não tivesse sido o facto de me perder completamente em ti, tinha-me desmoronado. Porque a culpa aqui será sempre minha, fui eu que me deixei cair em tentação, fui eu que rejeitei a realidade. Tu não chegaste a aperceber-te de nada, o que também foi bom para mim. Assim, apenas bebia café (com muito açúcar) contigo e com tudo o mais imaginário possível.
Gostava de te ter tido. Apenas para poder sentir, na pele, a dor de te perder. À qual juntaria seis, sete, ou mesmo oito cafés por dia. Não quereria perder pitada de algo capaz de me matar. Se só imaginar quase mata…
Não te tive, o que acabou também por ser dor. Mas uma dor menor, mais rápida. Não se gosta (ou não gosta) de algo que nunca se provou. Mesmo assim, tenho a certeza que iria gostar. Eu iria gostar tanto de ti que haveria de querer sempre provar um pouco mais de ti em cada dia. Descobrir o travo a algo diferente em cada momento. Esta dor não é nada. A outra sim, seria capaz de me matar. O que talvez fosse melhor. Vale-me a recordação que começa desvanecer-se com o tempo e as pessoas que quase já não me falam de ti.
Correu tudo pelo melhor. Acabo o resto do açúcar com café que trouxe de casa num termo. Digo-te: “Adeus. Até já, meu amor”. Ajeito as flores na campa. Acendo um cigarro e inicio o caminho de volta a casa.