prometemos oferecer-nos, mutuamente, a morte. sem romantismos, apenas um adorno para a vida para a qual não gostávamos. a qual não queríamos viver.
hoje atrevi-me a rever-te. revisitando assim, anos depois, todos os lugares e sentimentos pelos quais passámos e prometemos passar. não sei se aguento. não sei se quero isto. ainda assim, prossigo.
aproximas-te e o nervosismo afasta-se. agora que não tens a cara recém-lavada em lágrimas a tua beleza realça. nunca me pareceste tão bonita. ao falar-te enfrento os fantasmas do amor que quase vivemos, dos encontros fugazes e apaixonados que vivemos no teu corpo.
o teu sorriso tem agora outro encanto, ou tem agora encanto. já não sorris para esconder a tristeza crónica de que padecias. tens agora uma nova vida com um novo brilho sob um novo olhar.
da conversa pouco ficou para além do teu sotaque (que sempre adorei). na despedida beijei-te, para recordar que a morte não é mais que um ornato.
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.