o relógio da estação marcava nove horas e trinta e um minutos, ao longe avistava-se já o comboio. há já uma semana que a cada minuto imaginava a tua chegada, como seria rever-te depois de tanto tempo. saias da carruagem, abraçava-te, beijava-te.
o comboio entrou na estação, parou, as pessoas começaram a sair, instalou-se o caos na estação, cumprimentavam-se pessoas e eu olhava, procurava-te no meio da multidão mas não te via, desesperava um pouco mais a cada pessoa que não tu que saia do comboio. sentei-me num banco na esperança que ao desfazer-se a balbúrdia te visse, de mala na mão, sozinha no cais. esperando-me.
a confusão desfez-se e a plataforma ficou vazia e silenciosa. apanhei o barco de regresso a lisboa. sonhara atravessar o tejo abraçado a ti, o vento frio a acariciar a cara. sonhei... naveguei sozinho. saí do barco e sentei-me num jardim a observar o rio a passar como se te observasse a ti passando por mim sorrindo.
não chegaste no comboio, não me visitaste, mas isso já eu sabia...
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.