a noite invadiu o quarto ao acordar. no prédio em frente, as luzes vão-se acendendo aos poucos, o reboliço da rua passa para dentro das casas. acendo também a luz sabendo que ninguém repara. desfolheio um jornal já antigo com a certeza que hoje o mundo continua igual porque assim é desde que existem homens. penso em mim através de ti. penso em ti e no momento que nunca chega.
estou contigo e o momento não chega nunca. o momento em que te ponho a mão na perna e suavemente te entregas. o momento em que te olho e tu me pedes beija-me. o momento em que aquele amor que parece não chegar nunca chega. e naqueles momentos entre as luzes do prédio em frente se começarem a apagar e o dia invadir o quarto ao adormecer abraçar-te. e no instante precisamente antes de te entregares ao sono dizer-te baixinho gostava que este momento durasse para sempre. e só então fechar os olhos e adormecer. para sempre...
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.