hoje, peguei no carro e viajei à deriva. aleatoriamente virei à esquerda ou à direita. sítios que não conhecia e continuo sem conhecer. absorvo-me no pensamento e o carro é apenas um pretexto para pensar. penso demasiado, eu sei. réstias de masoquismo que não consigo evitar.
a certa altura parei o carro numa praia que não sei qual. olhei-me um pouco no mar e voltei. da mesma forma que lá cheguei regressei. fui a casa, peguei na mala e fui para a estação. meti-me num comboio, onde tudo me é familiar, e voltei a lisboa. quando a estação começou a afastar-se pensei já não pertenço aqui.
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.