tentei fechar a mão e segurar algo, a tua mão quem sabe, mas apenas o ar se opôs na resistência ténue que pode oferecer. acordei nesse momento do sonho em que vivia. da ilusão de que ainda estás aqui. desisti de me tentar convencer que nada mudou, que tudo está igual.

vou até à janela e através do meu reflexo vejo a rua, vazia, o reflexo das luzes cor-de-laranja no pavimento molhado. um cão abandonado. acendo um cigarro que aperto entre os lábios até ficar oval. tremo das mãos e não tento acalmar-me. deixo que o pânico me arraste até ficar parado, completamente imobilizado. enquanto esse orgasmo não chega e me congela o pensamento penso no que é feito de ti e sei que não sei e sei que não quero saber. num último esboço de pensamento antes do pânico percebo que apenas não quero pensar, que não quero morrer.

quase que por espasmo aperto a mão com toda a força e sinto a tua mão e sinto o teu olhar e beijo os teus lábios e levo-te de volta para a cama e fico ali contigo a olhar-te, agora calmo, agora feliz. acendo um cigarro com o anterior e acordo e tu não estás lá.