sentei-me na cadeira junto da janela e não olhei para fora. antes, olhei para as fotografias que tenho na parede. mergulhei nelas e mergulhei no copo de vinho que pousado na mesa possuía o brilho da solução para todos os problemas. mergulhei nas fotografias e repito aqueles momentos, como se o tempo não passasse. como se aquelas histórias presas no tempo não acabassem nunca.
o copo já vazio perdeu a vida. na esperança de me ressuscitar enchi-o de novo e bebi-o de uma só vez. o brilho do vinho não passou para mim e a noite prometia ser longa.
chorei. sem ter vergonha das pessoas que passam e me vêm assim. não quis viver. quis ficar parado no tempo como as fotografias na parede. com um sorriso. para que as pessoas assim se lembrassem de mim. feliz.
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.