Se estivesses aqui agora sei o que te diria. Se te visse agora saberia o que pensar. Se te pudesse tocar agora...
Vou à janela de onde te espero ver. Não te vejo e por isso escrevo uma carta que sei que não te vou entregar.
Passam-se horas até a conseguir começar e acabar. Tenho tanto para não te dizer. Tanto que te podia dizer e que prefiro guardar só para mim. Tanto quem me vou arrepender de não ter dito. De não ter feito..
Por isso pego numa folha em branco e escrevo:
«Gosto de ti»
Páro e penso um pouco. Acrescento um ponto final e dobro a folha que guardo numa gaveta juntamente com todas as outras cartas que jamais te escrevi.
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.