Ponho o chá a fazer e espero junto da chaleira que fique pronto. Encho uma caneca e sento-me na poltrona perto da janela. Fico a ver chover. Há muito tempo que não chovia assim. Ao ponto das pingas fazerem barulho ao embater na janela, do vento se ouvir assobiar. Dou um trago no chá e sinto-me aquecer. Estou mais confortável. Molhei-me completamente no caminho de tua casa à minha. Penso em ti agora que já não estou contigo. Agora que não te voltar a ver ou a ter. Penso em que é que errei. Penso no que não fiz. Penso no que podia ter feito. Percebo que foi errado desde o início e não penso mais nisso. Nada havia a fazer...
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.