falas comigo e sinto-te distante. como se por telepatia tivesses descoberto aquilo que sinto por ti e que tento a todo o custo esconder. partilhei apenas com uma pessoa estes sentimentos. comigo. hoje quando fazia a barba olhei-me nos olhos e disse gosto de ti, e disse também isto nunca vai chegar a lado algum, nunca vou ser capaz de gostar de ti como quero gostar. nunca vou ser capaz de te amar. percebi-o ontem quando estavamos sentados lado-a-lado a olhar o mar, em silêncio. senti que o silêncio te incomodava. que tinhas necessidade de falar. de dizer algo. o silêncio foi-te desconfortável.
deste-me um abraço sabendo que seria o último que me irias dar. sabias já que eu me ia refugiar noutras pessoas. para te esquecer. sabias que se me voltares a ver nunca será como foi ontem. depois arrependes-te. mais tarde ainda percebes finalmente que já não me poderás ter. que aquela tarde foi a última vez em que eu quis entregar-me-te. agora não quero. é tarde demais. gostos das coisas simples e estes jogos irritam-me porque não sei jogar.
é domingo e já é tarde.
...apoderei-me do silêncio...
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.