cruzo-me e troco olhares com tanta gente na rua todos os dias. porquê tu? porque é que te fotografei com o olhar e guardei a imagem só para mim? a toda a hora em todo o sítio esta fotografia mental que te tirei. agora, já paranóico, penso que te devo ter conhecido algures.
tento explicar a todo o custo a fixação. seja como fôr, a lógica já se perdeu e recorro à estupidez. espero que encontrando a razão te esqueça. percorro todas as memórias. percorro todo os locais onde estive e onde tu possas ter estado. não te conheço e assim não esqueço.
hoje quando já quase não me lembrava entrei no mentro e lá estavas, sentada ao pé da janela. como uma sonhadora que num túnel espera encontrar paisagem. sentei-me à tua frente com a certeza de que te iria falar. afastaste o olhar da janela e dirigiste-o a mim. apenas fui capaz de sorrir.
insónia #1
Quando entras no bar e a vês ao longe a sorrir por ele lembras-te que não és só tu que tens um passado. E é aí que pensas que já chega, que já foi longe de mais. É aí que decides que não podes continuar assim. Fazes planos para mudar de cidade, de país e ficas no mesmo sítio porque sabes que não adianta fugir. Dizes já chega e durante dois ou três dias cumpres, não mais que isso. A necessidade de te enganares a ti mesmo é demasiado grande. Acabas por te cruzar com ela, talvez ela te telefone, e és tu quem sorris por ela. Com algo tão simples como uma qualquer piada que vos seja familiar, que te faça sempre rir. Ou talvez seja pela forma como ela pronuncia aquela palavra. O certo é que quando dás por ti, acreditas que o passado foram apenas vocês os dois, e que tudo pode voltar a ser como foi. Mas não pode. Um dia vais ter que dizer já chega e vais ter que cumprir. Mas não hoje.