Infidelidade

Certo dia, telefonaste-me, querias encontrar-te comigo. Depressa senti na boca o sabor da vingança. Preparei todo o discurso, sobre a vizinha, como a tinha conhecido, como a tinha seduzido, até ao infímo e mais sórdido pormenor. Tocaste à campaínha e mal abri a porta disseste que te ias casar. Uma vez mais derrotado. Pediste-me uma última noite e eu disse que não e depois arrependi-me. Tu acedeste e passámos uma última noite juntos. Pedi-te que ficasses comigo, tu sorriste e disseste "és um tolinho" ou algo ainda mais irritante. Depois, e por isto tive vontade de te matar, disseste que te tinhas cruzado com uma vizinha no corredor, que era gira, que a devia comer. Disse-te que já tinha pensado nisso e que ia ao teu casamento.

Deito-me na cama e atravessa-me o pensamento a questão da infidelidade, desço dois andares e vou ter com a vizinha que se chama Catarina e conto tudo, ela dá-me um estalo e diz que nunca mais me quer ver. Duas semanas depois cruzamo-nos no corredor, convidei-a para um café, ficou tudo bem. Ela gostava mesmo de mim. Era-me indiferente. Gosto dela. Penso, é tarde demais.