Acordo todos os dias com a desilusão de ainda ser eu. Não preciso de espelhos que mo digam quando sei que vou encontrar a mesma cara cansada, as olheiras a escorrerem pela cara. É acordar de um coma. Quem sou? Onde estou? Foda-se! Sou eu. No mesmo quarto, na mesma cama, a parede tingida de vermelho que podia muito bem ser sangue se ao menos pudesse arrancar o meu próprio coração com as mãos. Foda-se! Sou eu, ainda eu, sempre eu. E nada faz sentido, é sempre a mesma falta de ar, é mergulhar e não conseguir vir à tona, os pulmões em espasmos exaltados, o coração a rir-se a pensar que é desta. Depois acordo, sossego para a seguir se soltar a debandada nas veias. O coração a rir-se, a saltar do lugar, a ir para a cabeça e a esmagar o cérebro, o coração a fazer o que quer e a não me deixar fazer nada. Órgão ridículo este que nos mantém vivos quando queremos morrer. Sempre a contradizer, a contrariar, a obrigar-nos ao torpor da esperança. Foda-se! Sou eu. Eu. Eu. Ainda eu. Só por um dia, um único dia, gostava de não o ser, descansar de mim em mim. Sobreviver ao cansaço. Porque a esperança espera e nunca desespera.
Acordo todos os dias com a desilusão de ainda ser eu. E não sei explicar o choque de me reconhecer sem que pareça ridículo. Como poderia não ser eu? Pois, eu sei. Mas a esperança é uma cabra e diz-me ao ouvido que um dia vou acordar outro. Podes rir-te, eu também me rio. E a seguir choro, e a seguir grito, e a seguir conformo-me com o destino, digo que hoje vou tentar ser melhor só para me enganar e aguentar até dormir. Se conseguir. Eu não quero não ser eu, quero não acordar. Quero sonhar este sonho: um dia acordo e não sou eu, sou outra pessoa, com outros problemas, com outra vida, gostar de não gostar de nada, não sentir, não pensar, enfim, ser estúpido. É que isto já cansa, porra! As mesmas lágrimas pelas mesmas razões, os mesmos raciocínios ilógicos disfarçados de coerentes e irrefutáveis. Mas lá me vou aguentando. É o que se quer, não é? É o que tem de ser.
Acordo todos os dias com a desilusão de ainda ser eu. E não sei explicar o choque de me reconhecer sem que pareça ridículo. Como poderia não ser eu? Pois, eu sei. Mas a esperança é uma cabra e diz-me ao ouvido que um dia vou acordar outro. Podes rir-te, eu também me rio. E a seguir choro, e a seguir grito, e a seguir conformo-me com o destino, digo que hoje vou tentar ser melhor só para me enganar e aguentar até dormir. Se conseguir. Eu não quero não ser eu, quero não acordar. Quero sonhar este sonho: um dia acordo e não sou eu, sou outra pessoa, com outros problemas, com outra vida, gostar de não gostar de nada, não sentir, não pensar, enfim, ser estúpido. É que isto já cansa, porra! As mesmas lágrimas pelas mesmas razões, os mesmos raciocínios ilógicos disfarçados de coerentes e irrefutáveis. Mas lá me vou aguentando. É o que se quer, não é? É o que tem de ser.