resignação

Não sei como explicar isto. É difícil perceber esta coisa a que chamam coração e que não é mais que uma amálgama de sentimentos. Dói mais assim. Não poder rasgar o peito e agarrar qualquer coisa até que pare. Dói mais assim. Há dias que parecem demasiado longos, outros demasiado curtos e é isso que os distingue. Acordo, adormeço (quase sempre com dificuldade), e dias há em que nada acontece pelo meio.

É uma dor generalizada. Sem que consiga distinguir onde mais dói. Se é ansiedade, melancolia ou paixão, não sei. Não é fácil. Não sei como explicar. Mas começo por isto: sinto uma permanente saudade de tudo. Do que passou e do que está para vir. Foi isso que me fez voltar. Foram as saudades daquilo que sentia quando bebíamos sumo de morango, em picnics improvisados no quintal de tua casa. E tu dizias: és irremediavelmente defeituoso. E sorrias. E agarravas-me a mão e dizias: mas tens bom coração. Parecias gostar de mim.

Quando o Outono chegou deixámos de nos encontrar. Ficou a saudade. Contigo era mais fácil: entendias-me melhor. Mesmo quando eu usava quarenta palavras para explicar aquilo para que bastava apenas uma. Ficou a saudade, ficou a dor indistinguível que arrasta as horas, e apenas duas coisas para entreter o coração: a esperança de voltar ao que tive e a resignação de não o poder fazer.

long story short #12

Digo-te adeus. Outra vez. Sabendo que, tal como antes, não vais reparar.
Café. Banho. Talvez o banho primeiro. Disseste: fica só mais uns minutos. Trocámos dois ou três beijos que não contei para não parecerem poucos. Passei a mão pelo teu braço, à procura daquela tua marca de nascimento, para ter a certeza que estava acordado. Que eras tu. Disseste: já podes ir, é aqui que o fim começa. Perguntaste sem deixar de olhar a parede: o que ficou por dizer? Respondi: o fim começou muito tempo tempo antes de nós.

round here